Leiria, detentora de uma belíssima localização à beira do rio Lis, é uma cidade repleta de curiosidades. Tantas histórias e segredos por desvendar !
De todos os factos curiosos acerca de Leiria, a Sé Catedral é, seguramente, um deles. É, na verdade, a única Sé Catedral no país, cuja torre sineira está separada do edifício, situada noutra zona da cidade.
Segundo reza a lenda, havia uma torre sineira na Catedral de Leiria, no entanto os habitantes que viviam no outro lado da cidade, não conseguiam ouvir os sinos a chamar para a oração. É precisamente por essa razão que, em 1770, o Bispo D. Miguel Bulhões e Sousa ordenou a construção de outra torre sineira na encosta do castelo, ou seja, separado da Catedral.
Edificada em 1559, a Sé Catedral de Leiria é um magnífico e sóbrio edifício em estilo maneirista que se assume também como um dos exemplos mais perfeitos das igrejas salão (Hallenkirchen), juntamente com o Mosteiro de Alcobaça e o Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa. Um dos aspectos mais interessantes acerca da Catedral de Leiria é o papel da mulher nos Evangelhos, porque existe uma representação da coroação da Virgem Maria, no altar principal.
O impressionante Castelo de Leiria, erigido em estilo Românico e Gótico, é o ícone maior da cidade, assim como o palco perfeito do festival gótico Entremuralhas que acontece todos os anos no final de Agosto, atraindo tribos vestidas de preto com maquilhagens extravagantes e senhoras de cintura fina com as suas malas em forma de caixão.
Há algo verdadeiramente único acerca do Castelo de Leiria, uma espécie de aura de mistério. Um ponto estratégico que testemunhou as inúmeras lutas entre as tropas de Dom Afonso Henriques e os Mouros, com passagens secretas e corvos esvoaçantes, que anunciam vitórias iminentes. É por esta razão que o brasão da cidade apresenta dois corvos.
Após 3 anos de obras de renovação, o Castelo de Leiria reabriu as suas portas ao público. Mais acessível e mais fácil de percorrer. Um novo castelo para descobrir!
Na verdade, este é um dos maiores investimentos no plano cultural e na preservação do património, em Portugal. O Castelo de Leiria está agora mais acessível aos seus visitantes, oferecendo três elevadores, assim como um novo anfiteatro e diversas áreas de descanso. Foram plantadas espécies botânicas autóctones com vista a substituir outras espécies que colocavam em perigo a estrutura do castelo.
A renovação de diversas estruturas internas deste magnífico monumento é também digna de destaque, a par da bilheteira, das cisternas medievais e da Igreja da Pena que está agora coberta.
O rio Lis é um elemento-chave para perceber a identidade de Leiria e os seus habitantes. Por oposição à maioria dos rios, o rio Lis corre para norte e, ao aproximar-se do mar, para oeste. Este rio com 40 km de extensão inspirou inúmeros escritores e poetas ao longo dos séculos.
A cidade de Leiria possui uma aprazível zona, à beira do rio Lis, absolutamente ideal para andar de bicicleta ou caminhar. Nesta zona poderá visitar dois museus fantásticos: o Museu de Leiria e o Museu do Moinho de Papel, duas referências culturais da cidade.
A Igreja da Misericórdia é, na verdade, uma igreja dessacralizada, convertida na casa do Centro de Diálogo Intercultural de Leiria. O principal objectivo deste projecto consiste na preservação da memória das distintas comunidades e identidades que habitaram a região, sobretudo na Idade Média, quando a presença de Muçulmanos, Cristãos e Judeus era mais evidente.
A presença judaica em Leiria remonta a inícios do século XIII, estabelecendo-se uma comuna fora das muralhas da vila, que foi crescendo até ao seu apogeu no século XV.
A Judiaria é ainda hoje percetível na malha urbana de cariz medieval, onde em 1492 se instala o tipógrafo Samuel de Ortas, imprimindo, em 1496, o Almanach Perpetuum, de Abraão Zacuto, fundamental para os descobrimentos portugueses. Da judiaria permanece a memória da Igreja da Misericórdia como templo construído no local da antiga sinagoga. Nesta igreja barroca localiza-se o Centro de Diálogo Intercultural, que integra igualmente a casa de fundação medieval, dita Casa dos Pintores.
Qual a ligação entre Leiria e o rock? A cidade e a região envolvente de Alcobaça, Marinha Grande e Caldas da Rainha deram origem a inúmeras bandas rock que singraram na cena rock nacional e internacional.
Leiria pode ser considerada uma verdadeira incubadora de bandas rock que inspiraram gerações sucessivas. Os anos 90 foram especialmente ricos em termos de formações artísticas e autores promissores. Corriam os tempos longínquos (quase pré-históricos) sem Internet, iTunes ou Spotify. A globalização como a conhecemos hoje em dia era ainda um feito remoto. No entanto, bandas vibrantes como os Silence 4 (de Leiria), encabeçados por David Fonseca e Sofia Lisboa, ou os The Gift, abriram caminho a carreiras duradouras e sólidas.
A associação cultural Fade In, liderada por Carlos Matos, reveste-se de uma imensa importância enquando poderoso motor cultural da cidade. É responsável pela organização do festival gótico Extramuralhas que se realiza todos os anos em Agosto, assim como de festivais de música alternativa e exploratória. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos que organiza diversos eventos com um inquestionável selo de qualidade. Porque "há uma cultura que não se encontra nas prateleiras de supermercado".
Como será o futuro? A editora musical sediada em Leiria Omnichord Records tem desenvolvido nos últimos anos um trabalho fundamental na consciencialização pública da importância da profissionalização do sector cultural. Não apenas dos músicos em si, mas de todas as profissões que gravitam em torno da indústria da música: assistentes de palco, escritores, engenheiros de som, gestores de redes sociais, técnicos de luz, entre outros. Bandas como Surma, First Breath After Coma ou Whales foram descobertos nas escolas secundárias de Leiria. Muitos destes artistas profissionais vivem da música. É esta a lição a retirar: profissionalizar a cultura, de forma a que mais bandas como aquelas dos longínquos anos 90 possam florescer de uma forma altamente competente. De olhos postos no futuro.