A cidade de Ovar, perto de Aveiro, conhecida pelo seu rico património religioso e qualidade artística, celebra o calendário litúrgico, especialmente a Quaresma, com grande devoção há séculos.
No centro histórico da cidade, as tradições e devoções quaresmais contribuíram para um legado cultural único, especialmente através das procissões anuais da Quaresma, que são o ponto alto destas celebrações religiosas. A Quarta-feira de Cinzas marca o início da Quaresma, simbolizando a reflexão sobre a brevidade da vida e incentivando a renovação espiritual.
Originalmente construídas em madeira, as Capelas da Paixão foram reconstruídas entre 1748 e 1756 em pedra e cal, financiadas por um imposto sobre a venda de vinho. Actualmente, estas sete capelas rococó do século XVIII formam um conjunto arquitetónico e artístico único em Portugal, retratando cenas da Paixão de Cristo com um design intrincado que combina arquitetura, pintura mural, escultura e talha dourada.
As capelas situam-se no centro histórico:
Ovar acolhe várias procissões quaresmais de enorme significado:
As celebrações quaresmais em Ovar oferecem uma fusão notável de tradição, devoção e património artístico, tornando esta experiência cultural e religiosa única.
O ciclo de tradições da Quaresma e Semana Santa no Fundão, nas imediações da Serra da Estrela, ainda hoje se assume como um acontecimento central do ano litúrgico cristão. Durante a Quaresma - período do ano litúrgico que antecede a Páscoa cristã, que se inicia na Quarta-feira de Cinzas e culmina na Solenidade de Domingo de Ramos, a Semana Santa - semana que antecede a Páscoa e a Páscoa, destacam-se em quase todas as pequenas aldeias do Fundão as “Encomendações das Almas”, os “Cânticos dos Martírios”, as “Ladainhas”: cantos piedosos e de meditação que tem atravessado o tempo. São raros os lugares em que estes cânticos – uns com vozes masculinas, outros só com vozes femininas, não continuam a quebrar o silêncio da noite.Em Lavacolhos ocorre a singular “Procissão dos Penitentes”, reminiscência de velhos cultos pagãos, e na noite de Sexta-feira Santa, a Procissão do Enterro do Senhor, ainda se faz ao ritmo do choro de quatro mulheres, as Verónicas.Na noite de sábado que antecede a Páscoa, todos os sinos do Fundão tocam em uníssono celebrando a Ressurreição de Jesus Cristo e a chegada da primavera, na “Festa da Aleluia”.
Na quinta-feira Santa, também no Fundão, a Procissão do Senhor da Cana Verde sairá mais uma vez da Capela da Misericórdia e em todas as sete ermidas da cidade do Fundão o silêncio volta a estar presente na Paixão de Cristo
Em cada casa, em cada família, na época da páscoa não podem faltar á mesa o bolo doce, o bolo de azeite, o cabrito no forno, ou o borreguinho com azeite, alho e alecrim, as papas de carolo e glorioso arroz doce.
Em Idanha-a-Nova, na região de Castelo Branco, as tradições da Páscoa estão profundamente enraizadas e são gloriosamente celebradas.
Na noite de Sexta-feira Santa, realiza-se a Procissão do Enterro do Senhor, conduzida pelos irmãos da Santa Casa da Misericórdia. Carregando a imagem de Cristo, seguem até à Capela de São Jacinto, onde a figura é colocada num cofre de madeira que serve de sepulcro. Na Capela de São Jacinto, ramos de louro, grandes flores brancas em vasos, laranjas azedas e inúmeras couves evocam memórias de práticas que propiciam a fertilidade da terra. Com a cristianização, estes elementos passaram a simbolizar a passagem da semente morta para a nova planta, um símbolo da morte e ressurreição de Cristo. O silêncio solene é dramaticamente interrompido pelo bater da tampa do cofre, simbolizando a pedra que sela o túmulo de Jesus.
Em Monsanto, a Descida da Cruz é marcada por um profundo silêncio, enquanto Cristo é retirado da cruz e colocado num sepulcro. Durante a cerimónia, canta-se o Canto de Verónica, enquanto se desenrola um pano que gradualmente revela a imagem do rosto de Cristo, recordando a lenda de Verónica a limpar o Seu rosto.
No Sábado Santo, a tradição de cantar "Alvíssaras" é amplamente praticada, acompanhada por pandeiretas e tambores de mão. No entanto, em Idanha-a-Nova, centenas de pessoas reúnem-se à noite na praça da igreja, soprando milhares de apitos para marcar a Missa da Vigília Pascal. No final, todos aguardam ansiosamente que o padre atire amêndoas para a multidão, um costume local muito apreciado.
Em Segura, um prato especial é preparado para a refeição pascal: um puré de azedas servido com peixe do rio frito. O uso de ervas azedas faz referência simbólica à história do Êxodo, lembrando as ervas amargas consumidas pelos judeus na noite anterior à sua libertação do Egito.
Esta é uma prática religiosa que ocorre às sextas-feiras da Quaresma, quando homens e mulheres sobem aos pontos mais altos da aldeia para cantar e rezar pelas almas do purgatório.
A Encomendação das Almas é um ritual associado ao culto dos mortos, praticado por mulheres durante a Quaresma, cujas origens remontam, provavelmente, ao século X. O objetivo da Encomendação das Almas é aliviar o castigo das almas no Purgatório ("Pregatório", na pronúncia local), através de orações, para que possam alcançar o descanso eterno. Este ritual é geralmente conduzido pelas "encomendadoras", mulheres que se reúnem em pontos estratégicos durante a noite e, através de cânticos e orações, chamam o resto da comunidade a despertar e acompanhá-las.
Esta manifestação resulta da fusão de rituais pagãos e cristãos, preservados ao longo dos séculos pela cultura popular. O uso de vestes negras está em sintonia com o luto, a compunção e a gravidade do tempo quaresmal. Em alguns locais, são usadas designações como "Excelência".