O Museu Aristides de Sousa Mendes, alojado na icónica Casa do Passal, abriu as suas portas, celebrando a memória de um homem que salvou milhares de pessoas do horror do holocausto. Um verdadeiro marco elogiado pelo Papa Francisco e pelo Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.
O museu evoca os valores da tolerância e da paz, perpetuando o legado e a memória de Aristides de Sousa Mendes, o prestigiado diplomata que salvou 30.000 vidas do holocausto, emitindo freneticamente vistos individuais ou familiares. Mesmo contra as regras do ditador Salazar, Aristides de Sousa Mendes seguiu os ditames da sua própria consciência moral numa missão sem precedentes a salvar vidas humanas, feita por um só pessoa.
A morada da família, Casa do Passsal, ou como é conhecida localmente "a casa do Dr. Aristides", foi erigida no século XIX e aumentada nas primeiras décadas do século XX. Classificada Monumento Nacional em 2011, hoje é o epicentro do Museu Aristides de Sousa Mendes, erguendo-se em toda a sua merecida glória, uma obra com a assinatura da dupla de arquitectos Rosmaninho + Azevedo. Também em 2021, o corpo de Aristides de Sousa Mendes foi trasladado para o Panteão Nacional, em Lisboa.
O museu foi oficialmente inaugurado no dia 19 de Julho de 2024, data do aniversário de Aristides de Sousa Mendes, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa que, no seu discurso, asseverou que o museu era uma lição para as gerações futuras.
João Crisóstomo, porta-voz do Vaticano presente na cerimónia de inauguração, leu o discurso sentido do Papa Francisco: "É com alegria que me uno, com o coração, não só para honrar, mas para beber o legado de um homem perito em humanismo, justo entre as nações. É confortante evocar a liberdade da sua consciência bem formada, assente na defesa da dignidade da pessoa humana. Na verdade, os caminhos da redenção e da salvação continuam a abrir-se perante nós. Que Deus nos dê sempre a coragem de os trilhar, sobretudo quando as vias do encontro e do diálogo se revelam insuficientes."
Com a curadoria da historiadora Cláudia Ninhos, o objectivo principal do museu consiste em apresentar o vasto arquivo da família Sousa Mendes de uma forma acessível para qualquer visitante, despertando, em simultâneo, o desejo de transformação. A história de Aristides de Sousa Mendes é profundamente inspiradora e, nesse sentido, poderá ajudar os visitantes a perceber como uma só pessoa pode mudar as vidas de milhares de seres humanos. Num mundo em tumulto, ameaçado pelo extremismo, pelas convulsões políticas e pela xenofobia, o Museu Aristides de Sousa Mendes assume-se como um bastião dos Direitos Humanos e da consciência moral.
A exposição permanente do museu centra-se nas acções humanitárias levadas a cabo pelo cônsul durante a Segunda Grande Guerra, de forma a percepcionar a Casa do Passal como "local de memória" e espaço de construção social e política do seu protagonista. Inclui diversas secções que contam a história da casa, da família Sousa Mendes, a carreira consular de Aristides de Sousa Mendes, o contexto histórico da época, os principais eventos políticos até ao êxodo de 1940, o julgamento, a sentença e a reabilitação da memória do cônsul, assim como as histórias de outros portugueses que também salvaram judeus na Segunda Guerra Mundial.
Caros amigos,
É para mim uma honra ter a oportunidade de me associar à cerimónia de inauguração do tão aguardado Museu Aristides de Sousa Mendes.E gostaria de felicitar todos os que trabalharam arduamente para tornar este ambicionado projeto numa realidade.Aristides de Sousa Mendes foi um bastião de coragem, de compaixão e de convicção num mundo em total colapso moral.O diplomata viu-se perante uma escolha difícil: seguir as ordens do seu governo ou salvar vidas.Escolheu salvar vidas.Com a chegada iminente dos nazis a Bordéus, Aristides de Sousa Mendes sabia que não tinha tempo a perder.Ignorou a infame “Circular 14” do seu governo, que negava vistos de passagem segura de refugiados para Portugal e que designava explicitamente refugiados judeus.E a partir do seu posto no Consulado de Portugal, tomou medidas.Trabalhando dia e noite, Aristides de Sousa Mendes estabeleceu um sistema rápido para carimbar e assinar passaportes e emitir vistos que salvaram vidas.Para poupar tempo e emitir mais vistos, a sua assinatura foi ficando cada vez mais curta — de Aristides de Sousa Mendes…para Sousa Mendes…para, simplesmente, Mendes. Ao longo de algumas noites sem dormir, em junho de 1940, ao todo, emitiu milhares de vistos.O seu legado consiste em vidas salvas e vidas vividas – incluindo uma jovem que, anos mais tarde, se tornaria a mãe do meu próprio porta-voz nas Nações Unidas.Pelo seu ato extraordinário, Aristides de Sousa Mendes foi pessoalmente repreendido pelo ditador António de Oliveira Salazar e expulso do corpo diplomático sem qualquer pensão.Aristides de Sousa Mendes morreu na pobreza.Mas nas décadas seguintes, a magnitude e a bravura das suas ações foram gradualmente reconhecidas. E foram tomadas medidas para corrigir as injustiças de que foi alvo.Este museu – na sua casa ancestral – é uma parte fundamental desses esforços:Ao ensinar as gerações presentes e futuras sobre a sua imensa coragem e os horrores do Holocausto.A inauguração do Museu acontece num momento crucial.Hoje, o nosso mundo é perigoso e está dividido.O número de pessoas forçadas a abandonar as suas casas atingiu um nível recorde.E o ódio e a intolerância – incluindo o antissemitismo, o anti-islamismo e os ataques contra cristãos e outros grupos – são frequentes.Corremos o risco de esquecer a nossa humanidade partilhada.Neste contexto, brilha o exemplo de Aristides de Sousa Mendes.Por isso, deixemo-nos inspirar pela sua memória. Ganhemos coragem com o exemplo da sua bravura.Assumamos o compromisso de defender os direitos humanos e a dignidade para todos;E de combater a discriminação, a intolerância e o ódio quando e onde surgirem.As Nações Unidas estão convosco ao longo deste caminho.Muito obrigado.Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres
O Presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal, Paulo Catalino Ferraz, destacou que o projecto em torno de Aristides de Sousa Mendes também inclui o futuro Centro de Acolhimento e de Integração de Refugiados que terá um papel central no empoderamento profissional das comunidades de refugiados.
O Município de Carregal do Sal também realizou um investimento avultado nos jardins da Casa do Passal. Árvores e espécies botânicas que Aristides de Sousa Mendes trouxe dos locais onde trabalhou estão agora a ser plantados no jardim, de modo a reproduzir o espaço exterior da casa, à época, onde o diplomata viveu e que o município quer fazer renascer, usando-o como espaço de actividades culturais, incluindo concertos musicais.
Horário de funcionamento10:00 – 13:0014:00 – 18:00Encerra à segunda.